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Um relato e uma lição sobre amamentação!

  • Clau Vieira
  • 17 de dez. de 2017
  • 4 min de leitura

A alguns meses iniciei a elaboração desse texto,entre muitas tarefas da vida diária,trabalho,etc,hoje finalmente conclui e estou compartilhando com vocês.

Relato a seguir,um dos preciosos ensinamentos que recebi por meio da minha saudosa filha. Entre as muitas coisas que planejei viver com ela,estava a amamentação,algo tão importante ao qual me dediquei durante os meses em que esteve conosco.Mas o primeiro desafio enfrentado NÃO são comuns a maioria das mães e bebês: O quadro de Hidrocefalia dela ao nascer era grave, precisou ser levada de imediato a Unidade Neonatal! Provavelmente devido a toda emoção e tensão enfrentada ,a descida do meu colostro só aconteceu no terceiro dia.Na minha cabeça,logo após o nascimento veria muito leite descendo abundantemente.Não foi nem de longe o que aconteceu!Com tantas emoções e temores esse foi o segundo desafio a ser enfrentado:

CONFIAR que o corpo que foi preparado durante toda a gestação exerceria suas funções fisiológicas.E foi no terceiro dia pós parto,especificamente em uma manhã de domingo, que a produção de leite foi evidenciada com a descida do precioso colostro.Naquele mesmo dia iniciei a ordenha manual do leite,(nada fácil para uma mãe de primeira viagem,mais peguei o jeito rapidinho),que em seguida lhe era dada pela sonda,assim comecei amamentar minha pequena guerreira!

A PEGA

Tinha tudo para ter-mos sérios problemas quanto a pega e sucção,afinal,tratava-se de uma recém nascida com Hidrocefalia grave,mas não!Essa foi mais uma das partes surpreendentes da história:ela tinha naturalmente uma capacidade de sucção impressionante!Quanto aos ardores e leve ingurgitamento nos seios,sim,eles existiram,quiseram me apavorar inclusive,aquele medo que a maioria das lactantes sente da mastite ou de ferir o seio a ponto de inviabilizar a amamentação.Mas foram algumas técnicas,massagens e macetes que me ajudaram a vencer esses obstáculos,o conhecimento que adquiri em leituras durante a gestação foram postos a prova na prática!

PRIMEIRO DESAFIO:O INTERNAMENTO

Enquanto ela estava na unidade neonatal eu não podia ficar junto,esse detalhe fez toda a diferença,quando digo “toda diferença”não me refiro a algo positivo e sim a parte penosa da história.Me alojei dentro do hospital na chamada casa de apoio,(que de apoio mesmo só tinha a cama para dormir,pois naquela casa especificamente,cada parturiente se vira como pode e sem direito a acompanhante,independente se foi parto normal ou cesáreo).

Existia um cronograma de amamentação, de 3 em 3 horas,noite e dia ia ao local onde estava.Se era cansativo!? Nossa,aquela exaustão física nunca tinha sentido na vida!

Mas sabe qual era o combustível que me permitia dar partida? O amor!Nada iria sobrepujar tamanha completude que meu coração sentia por tê-la viva comigo;

Enfrentei o sono e as dores do corte da cirurgia,caminhava solitária muitos passos doloridos por aquele corredor enorme para chegar até onde estava internada,tirava do leito e sentava em uma cadeira extremamente desconfortável para quem estava costurada,corte abdominal na vertical e horizontal,resultado de um parto cesariana necessário,pois ela nasceu com

48 centímetros de perímetro cefálico,decorrente do acúmulo de LCR nos ventrículos que ocasionou o inchaço e crescimento da cabeça,por isso foi feito uma incisão abdominal maior e incomum na hora do nascimento.

O MAIOR DESAFIO:A CABEÇA

Todas as vezes em que chegava o momento de pegá-la sentia grande emoção,mas paradoxalmente angústia e medo também chegavam,engolia o choro e começava o processo.Devido o acumúlo de Líquido cefalorraquidiano nos ventrículos do cérebro, a cabeça da Hadassah antes da cirurgia de derivação pesava tanto que era muito difícil segurá-la.

Por muitas vezes precisei da ajuda das enfermeiras,do meu esposo,ou nas madrugadas quando não tinha ninguém por perto, precisei apenas suportar a dor e fazer o que era melhor para aquela vida tão amada.Após a DVP e a colocação da válvula o peso diminuiu e outro processo começou:o de adaptação a válvula e os cuidados devido os pontos na cabeça.

UM GRANDE APRENDIZADO Tenho muitas coisas que poderia contar, para resumir quero

apenas reafirmar que juntas vencemos inúmeros obstáculos que para uma mãe que nunca vivenciou algo do tipo é natural pensar não ser possível,

mas somos provas de que cada caso de Hidrocefalia é diferente.Se você que está lendo vive algo parecido,entenda que apenas um diagnóstico não deve ser motivo para desistir de sonhar e viver com o seu filho ou filha os sonhos que planejou quando pensava que teria uma criança sem nenhuma doença congênita.Aqui deixo meu pedido aos profissionais que atuam na área da saúde e tem contato com gestantes que recebem diagnósticos tão assustadores como o que recebi,para que sejam sim realistas,mas que também digam sempre palavras otimistas a tais mães,pois isso para mim fez muita diferença.Aqui deixo minha gratidão ao Dr.Marcelos Marques que foi um grande encorajador quando tanto precisei,sem palavras para dizer o quanto significou para mim tanta humanidade e apoio de alguém que é especialista em medicina fetal e soube perfeitamente me instruir.

Após quase um mês no hospital,ao chegar

no conforto do nosso lar e pelo fato de tê-la tão pertinho de mim,

ficava a refletir pelas manhãs,tardes e madrugadas enquanto a amamentava: "Como uma mãe que produz leite suficiente e nenhum problema de saúde que impeça a amamentação,abre mão de algo tão valioso para ambos,mãe e filho?" E essa história é uma das minha motivações para incentivar todas as mamães a não desistirem de amamentar enquanto houver possibilidade,sem dúvidas dificuldades surgem e precisam ser vencidas com muito esforço e renúncia. Entendo perfeitamente o caso daquelas que, por razões superiores, não puderam realizar o sonho de amamentar,tais mães tem minha total compreensão e acolhimento.

Como podem ver na foto,embora tivesse Hidrocefalia Congênita,Hadassah estava crescendo saudável,nunca teve infecções ou alergias,além disso,desenvolvia-se perfeitamente e ganhou peso adequadamente.E sim,minha guerreira ficou em amamentação exclusiva até os seis meses,quando faleceu havia poucos dias que tínhamos iniciado a introdução alimentar de frutinhas e outros alimentos saudáveis. Vivi um doloroso processo de desmame involuntário que quem é mãe vai entender bem,mas esse é assunto para outro texto...


 
 
 

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