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O luto de uma mãe


Enquanto vivo os dias mais angustiantes que enfrentei até aqui,percebo que o sentimento que define bem o luto de uma mãe é a solidão.

Achei que essa solidão só existia nos casos em que perdemos um bebê que ainda estava sendo gerado,pois também vivi esse tormento. Mas agora que estou atravessando um vale ainda mais tenebroso,percebo que também é tão solitário quanto o primeiro. Agora entendo que o que uma mãe enlutada mais precisa é poder falar da sua dor sem que alguém tente diminui-la! Frases como: "Deus vai dar outro" "Ela agora está melhor que nós" "Deus sabe o que faz" E inúmeras outras que existem já formuladas, podem até fazer todo sentido,mas em certos momentos servem apenas como uma boa intenção, no final não servem de consolação. Tem também aquele pensamento equivocado de que quanto mais idade,mais sofrimento.Por isso, algumas pessoas ao tentar me dizer uma palavra de ânimo, chegaram a falar que foi melhor agora enquanto ela era bebê do que depois quando já estivesse bem maior. Um grande equívoco! O que eu mais queria era ter visto ela crescer...E esse é exatamente o vazio que fica em uma mãe que perde o filho ainda pequeno:sonhamos em vê-los crescer e imaginamos tudo com antecedência. Quando sepultamos um filho, mesmo ainda bebê,temos a difícil tarefa de enterrar esses sonhos também. Por tudo isso,na hora de prestar solidariedade a uma mãe enlutada,o ouvir e o chorar com ela vai ser sempre mais apropriado do que falar muitas palavras.

Desde o primeiro instante em que a minha filha faleceu venho tentando encontrar maneiras de expressar tudo que sinto,mas quanto mais a gente tenta, mais entende que pouquíssimas pessoas sabem lidar com isso,é por isso que falo da solidão. Acredito que seja assim com todas as mães. As vezes simplesmente queremos silenciar,mas em outros momentos queríamos poder falar,não apenas da morte,mas da história desde o início da vida que foi em nós gerada. Ficamos submersas em um oceano de lembranças infindas... Em determinados instantes nos vem o desejo de estar apenas em um daqueles pesadelos, onde acordamos aliviados porquê nada que nos afligia era real.Mas logo em seguida é preciso encarar o desespero de saber que é sim tudo muito real! São sentimentos muito contraditórios:por vezes, assistir um vídeo ou ver uma foto dela é muito consolador,e em outras é avassalador ter que olhar e encarar o fato de que aquela agora é única maneira de vê-la,não posso tocar,abraçar ou sentir seu cheirinho.

A verdade é que a dor,a estranheza e o vazio que se tem após perder um filho não é um tema comumente explorado,afinal,só vivendo para saber o impacto que isso pode ter na vida de uma mulher. Ter um outro filho pode sim ajudar no processo da cura,mas jamais vai anular o vazio que ficou daquele filho que não irá voltar. No meu caso,não a verei crescer,não saberei como seria sua personalidade,enfim,serão sempre páginas em branco da vida dela que nunca poderão ser preenchidas.

Muitas vezes me pergunto quando irei sentir apenas saudades,sem essa dor indizível... A minha maneira de encarar o luto tem sido tentando entender o que Deus quer me falar através dessa tormenta,porquê creio que há um propósito maior até no sofrimento e por isso sinto que estou no processo de compreensão desse propósito. E quando a alma novamente se abate dentro de mim,tão somente posso afirmar o que disse certo salmista: "Agora, pois, Senhor, que espero eu? A minha esperança está em Ti."

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